quarta-feira, 6 de junho de 2007

A integração Empresa-Escola face à Orientação Educacional, baseada no Programa Adolescente Aprendiz

Contextualização do artigo
Eu estagiei durante um ano numa Empresa Pública e fui coordenadora pedagógica do Programa Adolescente Aprendiz durante o mesmo período. Assim, tive a oportunidade de fazer várias reflexões sobre o Programa e seu impacto na vida profissional e social do adolescente. Escrevi o presente artigo para uma disciplina, mas precisei adaptá-lo para postar no blog. Outros artigos sobre o Programa Adolescente Aprendiz ainda serão postados, assim como outros referentes ao meu trabalho e ao papel do pedagogo em empresas e organizações.
Artigo
O Programa Adolescente Aprendiz tem por objetivo estimular a prática da cidadania, de valores éticos e profissionais e promover a capacitação profissional para execução de serviços bancários e administrativos pelos jovens aprendizes contratados. O Programa é direcionado a adolescentes de baixa renda que estudam em escolas públicas, com idade entre 14 e 18 anos e que desejam atuar como menores aprendizes e capacitar-se para o mercado de trabalho.

O Programa obedece à Lei nº 10.097, de 19 de Dezembro de 2000, que altera dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT. O artigo 428 desta Lei prevê o Contrato de Aprendizagem como um contrato de trabalho especial, ajustado por escrito e por prazo determinado, tendo, no caso deste Programa, prazo máximo de dois anos, em que o empregador se compromete a assegurar aos menores do Programa formação técnico-profissional metódica, compatível com seu desenvolvimento físico, moral e psicológico, além de tarefas necessárias a essa formação.

A maioria das empresas que adere ao Programa contrata uma Entidade, sendo esta geralmente sem Fins Lucrativos, para ministrar o curso de Agente Administrativo ou Auxiliar bancário aos adolescentes do Programa. O curso é dividido em módulos de estudo sobre os temas: visão do mercado de trabalho, atitudes necessárias ao bom profissional, procedimentos administrativos/bancários, matemática básica e financeira, comunicação e língua portuguesa, educação digital, cidadania, e, ainda, atividades culturais e desportivas. Porém, o projeto político-pedagógico varia de acordo com a Instituição e as necessidades cognitivas dos adolescentes para executar suas tarefas e refletir sobre seu trabalho.

O conteúdo teórico do treinamento é complementado pela visão prática, seja pela execução dos exercícios práticos sob orientação, seja pela convivência no próprio ambiente de trabalho com a equipe de funcionários durante a execução das atividades sob a supervisão voluntária de um funcionário da Empresa como orientador interno e supervisor.

Normalmente, tanto a entidade contratada quanto a Empresa contratante têm um supervisor/orientador para acompanhar as atividades dos menores, sejam estas exercidas na empresa, na escola ou no curso ministrado. Esse acompanhamento conjunto demonstra eficácia nos procedimentos pedagógicos e administrativos, aumentando o aproveitamento das atividades executadas pelos adolescentes dentro do Programa.

O mercado de trabalho exige que o indivíduo esteja qualificado para tornar-se profissional, mas a escola publica, muitas vezes, não dá base para que o aluno se prepare para as competições demandadas pelo capitalismo. Esse programa vem com o intuito de não só proporcionar o primeiro emprego ao jovem, mas de prepará-lo para produzir, tomar decisões, comunicar-se, supervisionar, gerenciar, dirigir negócios, dentre outras ações. É uma oportunidade que esses jovens dificilmente teriam, considerando-se seu posicionamento na sociedade e sua permanência na escola e a uma melhor qualidade de vida e de trabalho.

A escola não tem atendido às necessidades profissionais dos alunos, e isso acontece em conseqüência de seu método de ensino, que consiste basicamente na exposição teórica do assunto, que é avaliado por provas e testes, levando o aluno a uma formação conformista e acrítica. Os alunos têm a idéia de que o professor é detentor do conhecimento, determinando o que eles têm que fazer, e por isso exitam em manifestar opiniões dentro da escola. Para que a educação seja efetiva, é necessário que a escola valorize os conhecimentos do aluno, visando a formação crítica e criativa do mesmo.

Muitas vezes o aluno trabalhador não consegue conciliar escola e trabalho, pois a escola tem normas inflexíveis, desprezando a realidade do aluno. O Orientador Educacional deve buscar e mediar a participação do aluno nas atividades e decisões escolares, a fim de estimulá-lo a continuar estudando, conscientizando-o do papel da formação na vida profissional do individuo.
No caso do Programa Adolescente Aprendiz, o seu supervisor da Empresa deve buscar: integração do adolescente aprendiz com o ambiente de trabalho e a aprendizagem; incentivá-lo e acompanhá-lo no estudo dos módulos do curso técnico; avaliá-lo de acordo com seu comportamento; identificar e buscar soluções para seu déficit de aprendizagem; e estabelecer um relacionamento que permita transparência, feedback, crescimento e desenvolvimento de aptidões e habilidades do adolescente aprendiz. A vida escolar do aluno influencia em sua permanência do Programa, incentivando-o a comprometer-se mais com a escola. Deve ser feito um acompanhamento psicopedagógico com o adolescente, a fim de que o mesmo cumpra suas responsabilidades escolares e profissionais.

Alguns adolescentes relatam que se sentem desmotivados na escola, por serem repreendidos ao chegar atrasados nas aulas, mesmo que seja em decorrência do trabalho. Nesse caso, o Supervisor da Empresa deve conversar com o Orientador Educacional da escola a fim de se chegar a uma solução conjunta, mas, muitas vezes, há descaso por parte da escola em considerar a realidade do aluno e oferecer soluções para seu mau rendimento escolar.

De acordo com os adolescentes, o Programa traz muitas vantagens, como: crescimento profissional; ajuda financeira; melhor relacionamento em casa, por adquirir mais responsabilidade; aprendizado que gerará grande diferencial em sua vida profissional, referindo-se ao curso técnico; complemento no currículo profissional; melhora da comunicação verbal; dentre outras.

É fundamental que haja transformações nas relações escolares e nas condições educacionais, para que se tenha uma educação de qualidade e formadora de profissionais competentes para o mercado de trabalho. Os pais e alunos devem ser ativos na participação das decisões da escola para dar voz à importância do trabalho e como ele deve ser conciliado com os estudos, sem desconsiderar os aspectos que os unem. Considerando que o Programa Menor Aprendiz seja um integrador dessa ação, é importante que haja flexibilidade e acordo entre o aluno, a escola e a empresa.